Reflexões sobre as soluções apontadas para o problema da água - Desterro1

ÚLTIMAS

Desterro1

O Blog numero 1 de Desterro.

Publicidade e Propaganda

test banner

PUBLICIDADE CAPA 2 - DESTERRO

test banner

ANUNCIO INTERNO 1

test banner

31 de mar. de 2011

Reflexões sobre as soluções apontadas para o problema da água

Muito se tem escrito, neste mês de março, sobre a problemática da água. Os prognósticos para daqui a alguns anos são muito preocupantes. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2025, 1,8 bilhão de seres humanos viverão em países ou regiões com escassez de água, e dois terços da população mundial vão conviver em condições de carência extrema.

Os dados atuais também indicam que o sinal de alerta máximo já deve ser acionado. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirma que atualmente existem mais de 884 milhões de indivíduos sem acesso à água potável no mundo. E 2,6 bilhões dos 6 bilhões de habitantes do planeta não dispõem de um sistema de saneamento adequado.

agua_PE_Ibirajuba_SitioManicoba

Agricultora do semiárido pernambucano toma água da cisterna construída pela ASA. Foto: Roberta Guimarães

Diante da situação desafiadora, dois caminhos têm sido apresentados para o enfrentamento da problemática. Um deles é estabelecer o controle do acesso à água via cobrança pelo uso. O outro é cuidar da água existente, sanando problemas que diminuem a quantidade disponível para a população.

Os que defendem a cobrança da água se baseiam no seguinte raciocínio: a água, denominada também de “ouro azul”, é um recurso raro e, como tal, seu usufruto deve ser controlado por algum dispositivo que – numa sociedade capitalista – é o dinheiro.
Uma das premissas que sustenta esse argumento é que qualquer produto para ser fabricado, cultivado ou se desenvolvido (neste caso, os animais) precisa de água, a chamada “água virtual”. Há cálculos que apresentam que um computador de escritório exige 1,5 tonelada de água, um par de calça jeans, mais de seis toneladas, um quilo de aveia, uma tonelada, um quilo de frango, entre três e quatro toneladas, e um quilo de carne, de 15 a 30 toneladas.
Vários textos jornalísticos e artigos de opinião também falam que o recurso proveniente da taxação do uso da água seria utilizado como compensação ambiental para investimento em recuperação de áreas degradadas.
Para Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra, organização da Articulação no Semi-Árido (ASA), a taxação da água só para uso econômico é justa. Gogó, como é conhecido, acompanha de perto o Comitê da Bacia do São Francisco e sempre expressa suas opiniões em torno da questão da água através de artigos publicados em meios de comunicação. “È necessário estar atento para que a taxação não signifique privatizar a água. A privatização vai gerar a elevação do custo da água, consequentemente, muitas pessoas não poderão mais pagar para fazer uso doméstico e isso vai gerar exclusão”, explica.
De acordo com Gogó, o grande risco da cobrança de taxa é criar direitos de comercialização da água com base legal. “Isso gera um processo de apropriação privada da água diferente do que existe hoje no Semiárido, quando a privatização da água acontece sob a força, a brutalidade.”

cisterna_PE_Ibirajuba

Agricultora e família pousam junto à cisterna que garantiu água potável para consumo. Foto: Roberta Guimarães

Por isso, a simples solução de taxar o uso da água tem preocupado os movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e organismos internacionais como a ONU. “A água é um direito humano. O estado tem que garantir o acesso universal a todos os seres vivos, não só os homens, mas também a outras formas de vida”, assegura Gogó. “Para a ASA, a água é um patrimônio da humanidade e, por isso, deve ser preservada e bem gerenciada. Entendemos também que esse é o dever do Estado, da sociedade civil e de todo o cidadão e cidadã”, garante Neilda Pereira, coordenadora executiva da ASA Brasil pelo estado de Pernambuco. 
Além da divergência conceitual, outra discordância é com relação à origem do problema em si. Na verdade, a escassez de água potável não é verdade. O que existe é uma série de questões que diminuem a oferta de água potável para a população, como o desperdício na rede de abastecimento de água, o alto nível de consumo da água por indivíduo, a degradação ambiental que destrói as nascentes e corpos d´água e a poluição dos recursos hídricos, etc-etc. Segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, “há uma crise de governança, de políticas débeis e má gestão, mais do que de escassez.”
Mas este caminho exige uma reeducação e conscientização não só com relação ao uso da água, mas também nos níveis de consumo de bens materiais, na mudança na dieta alimentar que tem apresentado aumento da demanda por carne em detrimento dos grãos (a criação animal consome muita água e os grãos que alimentam o rebanho para serem cultivados tomam o lugar de florestas e vegetações nativas, diminuído a biodiversidade, aumentando o aquecimento global), etc. Ou seja: investir no uso sustentável da água significa a adoção de outra lógica do desenvolvimento. Não o pautado apenas na perspectiva econômica, mas num projeto de desenvolvimento que leve em consideração outras dimensões - sociais, culturais, ambientais...
O leitor deve estar pensando que este caminho pode até ser o ideal, mas está longe de ser real. E aí eu pergunto: mas até quando vamos pensar e agir de forma paliativa, sem enfrentar os problemas na sua magnitude e complexidade? Tudo na vida está relacionado. Nada tem solução se enfrentado por só uma perspectiva. O olhar integrado para a manutenção do equilíbrio natural deve ser perseguido e defendido por quem tem esperança de deixar para as gerações futuras um planeta com condições de vida. A tarefa é grande e somos muitos. É preciso arregaçar as mangas e seguir com coragem.

 

Verônica Pragana - ASACom

Recife - PE

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Sua opinião é muito importante para o blog.

PUBLICIDADE INTERNA 2

test banner