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5 de mai. de 2011

II Encontro reafirma identidade de agricultor experimentador

mistica_aberturaO primeiro evento nacional da ASA em 2011 foi realizado na semana passada e mobilizou mais de 300 pessoas entre agricultores e agricultoras, parceiros do governo e da sociedade civil, técnicos da ASA e estrangeiros da região do Chaco - um território com características climáticas e sociais semelhantes ao Semiárido brasileiro e que abrange a Argentina, Paraguai e Bolívia.

Para avaliar o II Encontro, a ASACom conversou com Neílda Pereira, coordenadora executiva da ASA Brasil pelo estado de Pernambuco, e com Antônio Barbosa, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Na entrevista, eles falaram sobre a importância da troca de saberes entre os agricultores e de que forma isso interfere na construção de um novo Semiárido. Confira!

ASACom - O Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) tem como um componente metodológico a realização de intercâmbio entre agricultores. Por isso, muitos momentos como de troca de conhecimentos são promovidos. Sendo que, na maioria das vezes, são encontros em proporções menores, com grupos bem mais reduzidos e entre estados e territórios próximos. O que um Encontro entre pessoas de diferentes realidades do Semiárido brasileiro oportuniza para a Rede ASA e para a causa de convivência?

Barbosa - De uma forma simples, esse Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores poderia ser chamado de Intercâmbios dos Intercâmbios. Ou seja, agricultores e agricultoras que participam desse evento estão vivenciando uma dinâmica de troca de experiências nos territórios e em outros municípios. A troca da experiência significa, necessariamente, a transmissão do conhecimento. Tanto o intercâmbio, como a sistematização de experiência são métodos mas, sobretudo, são formas de expressar a experiência. A ASA tem dito desde quando nasceu, que agricultores e agricultoras constroem conhecimento, adaptam conhecimento e eu preciso saber onde isso se encontra. Então, um encontro como esse fortalece a lógica da convivência com o Semiárido. Ele reforça a ideia de que se produz conhecimento a partir das pequenas coisas e, como foi dito no encontro, isso torna-se uma experiência grandiosa. Esse evento também é um momento importante para refletir sobre o próprio método, sobre a importância do intercâmbio, das sistematizações, das experiências e, sobretudo, a importância da troca dos conhecimentos.

ASACom - Na sua avaliação, quais foram os pontos altos do Encontro que reuniu cerca de 250 agricultores de todo o Semiárido brasileiro?
Neílda
– Inicialmente um dos momentos interessantes do encontro foi a visita dos parceiros a uma comunidade beneficiada com as ações da ASA no sítio Malhada Branca, no município de Buíque, onde tiveram oportunidade de ver no dia a dia das famílias como a ação da ação da ASA acontece. E ver estas ações significa também conversar com as famílias como se deu a mobilização, formação e intercâmbio, mas sobretudo perceber como as tecnologias e este processo de formação que a ASA desenvolve contribuem, de fato, com a mudança da qualidade de vida das famílias.

Um outro momento são as visitas de intercâmbio que têm um papel fundamental na nossa dinâmica. A partir do momento que os agricultores visitam outros agricultores eles conversam, criam, inovam, olham para suas experiências e veem como podem criar outras alternativas e fortalecer as experiências que já existem.

Por fim, o ato [público] que foi um momento de celebração, de encontro de diversos agricultores do semiárido brasileiro, quando percebemos que esta ação é construída por muita gente, por muitos homens e mulheres que acreditam que é possível construir um semiárido diferente.

ASACom - O que chamou sua atenção na participação dos agricultores e agricultoras neste encontro?

Barbosa - A primeira coisa é a quantidade de pessoas que hoje reivindicam o título de agricultores experimentadores e a outra é a qualidade dessas experimentações. Então, quando você tinha um grupo menor, o nível de reflexão era menor; hoje como tem uma quantidade maior de agricultores, inclusive experimentando em várias áreas, você consegue perceber nesse encontro um nível de amadurecimento e de reflexão sobre o conjunto das temáticas abordadas, como o acesso a terra, agrobiodiversidade, sementes, agrofloresta, criação de animais, ou seja, um conjunto de experiências. Esse encontro traz para si um nível de reflexão mais aprofundado. Além de estarem experimentando, são agricultores que sistematizam e avaliam essa experimentação. Então, eu acho que é isso que chama atenção nesse grupo. É a qualidade do debate que acontece e a construção da identidade de ser agricultor e agricultora experimentadora.

Para completar, uma das coisas que caracteriza a ação da ASA é que o Semiárido é um lugar bonito, onde se constrói conhecimento, um lugar único. Nós inclusive passamos pelo Dia da Caatinga, que é o bioma que só existe nesse lugar. Temos espécies e variedades que só vivem aqui. Esse é um lugar rico e diverso. E a ASA sempre primou por isso, no sentido de que a solução para a vida nessa região, para a falta de políticas públicas, seria a construção de políticas com base no que as pessoas experimentam.

A ASA e o conjunto das organizações acredita nisso e sempre acreditou. Um conjunto de agricultores que conhece a ASA tem vivenciado e percebido isso. No evento, tivemos uma fala que fez referência a uma matéria de jornal onde falava que, hoje, existem dois tipos de agricultores no Semiárido: agricultores que ainda vivem com falta de água, com dificuldades, que ainda precisam passar pelos percalços; e agricultores que conheceram a ASA, que têm água para beber, água para produzir, têm na sua referência a lógica da estocagem. Então, muito mais pessoas, hoje, acreditam nisso. Então, não dá pra mensurar, mas hoje você percebe alegria e confiança nas pessoas que vivem nessa região. Elas acreditam nisso. Então, toda violência simbólica a que estava submetido o Semiárido, de dizer que era um lugar inóspito, incapaz, que não chovia, que era um castigo de Deus está sendo quebrada. E isso não é apenas no campo do acreditar.

Ano passado, 2010, um conjunto de estudos apontou que tivemos uma das maiores secas. Maior até que a de 1958 e ela passou despercebida, porque a quantidade de água armazenada no Semiárido, seja em cisternas, barragens ou tanques de pedra, aumentou a malha hídrica e fez com que as pessoas não sentissem o impacto desse fenômeno. Hoje, o Brasil possui um programa de gestão de água que talvez seja o maior da America Latina, através dessa experiência da ASA, da água compartilhada. Essas coisas fazem com que as pessoas acreditem numa nova lógica. Discutir isso enquanto política pública requer compromisso do Estado. Precisa que o Governo aposte nisso. Nos oito anos do governo Lula e agora Dilma também está se dispondo a ampliar a disponibilidade hídrica no Semiárido. Isso pode ser a continuidade da construção dessa nova história.

ASACom - Os objetivos do Encontro foram alcançados?
Neílda
– Avalio que sim. Pensamos em objetivos que, sobretudo, pudessem proporcionar o diálogo de agricultor para agricultor. E isto foi muito presente no encontro desde a abertura até os momentos finais. Nos intervalos a gente percebia que os agricultores estavam conversando, trocando sementes, trocando material. Conseguimos também refletir sobre o que temos feito na ASA a partir do P1+2, discutimos como se dá a assessoria às famílias, discutimos como podemos fortalecer a agricultura familiar nos estados partindo das experiências dos agricultores e agricultoras.

ASACom - O que você observa de mudança nos agricultores e agricultoras que participam de momentos como este? Principalmente, as mudanças que não podem ser medidas como as de comportamento, de ânimo, de comprometimento...

Barbosa - Hoje as pessoas acreditam na viabilidade do Semiárido. É por isso que existe um processo inverso da década de 1950, 1960 em relação ao êxodo. Atualmente, as pessoas de São Paulo, Rio, estão voltando e não é para as áreas urbanas, mas para o meio rural. Inclusive, muitas pessoas que trabalharam na construção civil, aproveitam os conhecimentos adquiridos, voltam, e são cisterneiros. Começam acumular água e tornam-se referência nas suas próprias comunidades. Dar visibilidade a isso é construir uma nova história. Tornar isso real tem mudado a vida do Semiárido.

ASACom - Neílda, você já tem alguns anos de ASA, inclusive, foi um das organizadoras do I Encontro Nacional de Agricultores Experimentadores do Semiárido que aconteceu em 2009. O que você percebe de diferença entre os dois encontros?

Neílda – É impressionante! Quando você olha para o primeiro encontro percebe que foi mais no sentido de despertar essa identidade de agricultores experimentadores e experimentadoras. O segundo foi no sentido de reafirmar. Você percebia que os agricultores vinham dos estados com muita vontade de discutir as experiências, de socializar o que têm feito, mas vinham sobretudo com o sentimento que são parte desta construção, que eles, no dia a dia, vêm contribuindo para que a ação da ASA cresça a partir das inovações dos agricultores.

Olhar para este segundo encontro é olhar para uma continuidade do que a ASA vem fazendo com a certeza de que conseguimos alcançar resultados bastante interessantes, principalmente, quando os agricultores se sentem parte desta construção e percebem que, através de suas experiências, é que conseguimos pautar e influenciar as políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar.

ASACom - Além dos agricultores e agricultoras, que são a grande estrela deste Encontro Nacional, parceiros e representantes da sociedade civil e governo de países da América do Sul também participaram do Encontro. Qual a importância para a ASA da participação destes convidados especiais?

Barbosa - A ideia da parceria sempre foi um elemento forte na caminhada da ASA. A lógica da Articulação é que ela nunca está sozinha, não foi ela que construiu tudo sozinha, mas sim através das parcerias. Então, sempre ressaltamos a importância dos Conselhos, da Avina, da Oxfam, da ActionAid, a importância de um conjunto de outros parceiros, como os Ministérios, Febraban, da ANA [Agência Nacional de Águas] no passado. E até mesmo de indivíduos que contribuem não apenas financeiramente, mas dedicam seu tempo.

Esse outro Semiárido não é uma responsabilidade só da ASA. A ASA sabe disso e conta com as parcerias. É importante perceber que essa relação tem sido ampliada e cada vez mais pessoas e organizações tem participado disso. E esse Encontro é privilegiado, pois se ampliou para outras regiões, com características semelhantes ao nosso Semiárido. Você tinha pessoas da Bolívia, Argentina e Paraguai, que vivem em situações parecidas, com escassez de água e ainda não conseguiram construir alternativas, a exemplo do que a ASA vem fazendo. Esse foi um espaço legal de intercâmbio tanto para os agricultores daqui conhecerem a experiência de lá, como para as pessoas de lá conhecerem as daqui. Foram trazidas experiências diversas, inclusive no campo das sementes, da segurança alimentar. Além disso, essas pessoas puderam conhecer a nossa caminhada, ou seja, como é que a sociedade civil, a partir das suas organizações, pode mobilizar o Estado no sentido de dizer que a sociedade pode construir políticas públicas e aproveitar seu potencial local.

A referência da ASA para as organizações da America Latina deve ser no campo do método, no sentido de valorização do local, valorização do pequeno e potencialização das iniciativas que já existentes. Como eu dizia no início da entrevista, esse evento pode ser caracterizado como o intercâmbio dos intercâmbios do Semiárido brasileiro e porque não dizer do Semiárido da America Latina.

 

Fernanda Cruz e Verônica Pragana - ASACom

Recife - PE

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