Virar massa de cimento, dobrar vergalhões de ferro, bater piso, carregar placas, rebocar, desempolar o reboco, pintar... Parece uma cena de construção civil, tomada de pedreiros, mestres de obras e serventes. Mas essas atividades aconteceram durante a capacitação de pedreiras cisterneiras entre os dias 29 de agosto e 01 de setembro no município de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco. A atividade promovida pelo Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) e realizada pela Casa da Mulher do Nordeste, teve como objetivo, além de capacitar as agricultoras na construção de cisternas de 16 mil litros, discutir e promover ações que reposicionem o papel das mulheres na sociedade, principalmente no campo.
Para Laura Juliane, estudante do curso técnico em saneamento, filha de agricultores e participante do curso, “tanto homens como mulheres, independente de sexo, podem fazer a mesma profissão e agir na mesma área”. Mas essa não é a opinião geral na nossa sociedade, onde os papéis de homens e mulheres são separados em “coisas de homens” e “coisas de mulheres”. Como se não bastasse, essa separação de tarefas dá origem à desigualdade entre os sexos. E os trabalhos realizados pelas mulheres são considerados menos importantes e, consequentemente, menos valorizados.
A obra hídrica recebeu a assinatura das mulheres pedreiras
A participação na capacitação abre um caminho para as mulheres atuarem como pedreiras cisterneiras do P1MC. A agricultora Celma, que vive em Santa Teresinha e participou do curso, disse que pretende continuar com a atividade de construção de cisternas. Na semana anterior ao curso, ela já tinha construído três cisternas junto a um pedreiro em sua comunidade e outras famílias ficaram esperando ela voltar do curso para construir mais cisternas na comunidade. “Elas aprenderam mais que eu pensava. Estão de parabéns e espero que continuem”, foi a avaliação de Dona Lurdes, pioneira no trabalho de mulher cisterneira e a “professora” durante a capacitação.
A possibilidade de trabalho como pedreira cisterneira é um passo para a construção da autonomia econômica para as mulheres do semiárido que, como milhares de mulheres, muitas vezes, são privadas de realizarem seus sonhos por serem economicamente dependentes dos esposos, pais ou outras figuras masculinas. Dona Francisca, agricultora e participante do curso resumiu toda essa situação com uma só frase: “O pior sofrimento da mulher é a falta de liberdade”.
Posse da foto depois do trabalho feito
Mas não foi só a capacitação técnica que preencheu esse encontro entre jovens, senhoras, estudantes, agricultoras, mães e avós construtoras de cisternas. A formação continua com uma vivência prática, nas quais as mulheres construirão outras cisternas com o apoio de um pedreiro parceiro e serão remuneradas pelo seu trabalho. O próximo passo é reunir as experiências vivenciadas por essas mulheres e traze-las para um momento de formação política promovida pela Casa da Mulher do Nordeste, quando essas mulheres discutirão, a partir de suas realidades, as relações sociais entre os sexos e a condição da mulher na construção da convivência com o Semiárido. Quem participará dessas etapas da formação é a agricultora Celma que, como mulher, acredita que “hoje podemos realizar um trabalho desse praticamente só as mulheres. Me sinto vitoriosa e orgulhosa”.
ASA BRASIL
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