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Reynaldo Bignone, último ditador argentino, é julgado novamente por crimes da ditadur |
Um tribunal argentino iniciou nesta quinta-feira o julgamento do último
ditador do país, Reynaldo Bignone, e de outros oito acusados de cometer
crimes de lesa-humanidade contra 20 pessoas, incluindo sete grávidas que
foram sequestradas e assassinadas durante o regime que governou o país
entre 1976 e 1983.
Bignone, que em julgamentos anteriores recebeu quatro penas por crimes
cometidos durante a última ditadura argentina, esteve hoje sentado no
banco dos réus junto com os ex-militares Santiago Riveros e Eugenio
Guarañabens Perelló pelos crimes cometidos na guarnição militar portenha
do Campo de Mayo.
Neste mesmo quartel funcionou um dos maiores centros clandestinos de
detenção do governo, além de uma maternidade ilegal por onde passaram
várias mulheres sequestradas e, atualmente, desaparecidas.
Segundo fontes judiciais, também estão sendo acusados os ex-militares
Luis Sadí Pepa, Julio São Román, Hugo Castagno Monge e Carlos Eduardo
Somoza, além de um ex-oficial de inteligência do Exército Carlos del
Señor Garzón e sua muher, María Francisca Morillo, acusados pela
apropriação de Laura Catalina de Sanctis Ovando, cuja identidade foi
restituída em 2008.
"No julgamento oral há casos de grávidas que foram sequestradas e
desaparecidas e seus filhos, apropriados", explicou o advogado
querelante por parte do Estado, Ciro Anicchiarico, a Rádio Nacional.
O letrado da Secretaria argentina de Direitos Humanos indicou que pela
guarnição de Campo de Mayo "passaram mais de 5 mil vítimas e houve uma
maternidade clandestina", embora tenha dito que não há dados precisos
sobre o número de nascimentos registrados no local.
No do julgamento seguinte, os juízes Héctor Sagretti, Daniel Cisneros e
Daniel Petrone analisará o crime de dois jovens de 19 e 20 anos que
foram capturados durante a ditadura enquanto distribuíam panfletos com
conteúdo político.
"Este julgamento significa abrir feridas, limpá-las e aliviá-las. É uma
maneira de honrar e honrar meus pais", disse Sanctis Ovando à agência
estatal "Télam".
CRIANÇAS DESAPARECIDAS
Já Alba Lanzilotto, irmã de Ana María, que desapareceu em 1976 quando
estava grávida de oito meses, afirmou que "deseja que todos os
envolvidos paguem pelo dano que fizeram ao país".
"Tenho esperança que este julgamento sirva para que meu sobrinho ou
sobrinha e outras 400 (crianças apropriadas) que faltam, reflita sobre a
necessidade de saber a verdade e de sair desse mundo de mentiras",
sustentou Lanzilotto, integrante das Avós da Praça de Maio.
O último ditador argentino (1982-1983), que negociou a transição à
democracia após assinar uma Lei de Anistia (depois cancelada) e ordenar a
destruição de toda a documentação sobre prisões, torturas e
assassinatos de desaparecidos, é julgado pelo roubo de bebês durante o
regime, que deixou um saldo de 30 mil desaparecidos, segundo números do
governo e de entidades humanitárias.
Bignone, de 84 anos, já foi condenado em 2010 e em 2011 a 25 anos de
prisão por crimes cometidos no Campo de Maio, enquanto no último mês de
dezembro foi condenado a mais 15 anos de prisão pelos crimes realizados
em uma prisão clandestina que funcionou dentro do hospital público
Posadas, aos arredores de Buenos Aires.
Em julho, ele recebeu outra condenação de 15 anos de prisão pelo roubo
sistemático de bebês durante a ditadura, um histórico processo no qual o
ex-ditador Jorge Rafael Videla (1976-1981) recebeu uma sentença 50 anos
de prisão.
Folha de São Paulo com EFE na Argentina
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