No último dia 06, o governo federal anunciou o
novo Plano Safra 2013/2014, que prevê o investimento de 1,2 bilhão para o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O programa completa no
próximo mês de julho 10 anos. Sobre as conquistas e desafios do PAA e
seu desenvolvimento no Semiárido brasileiro, conversamos com Naidison
Baptista, coordenador executivo da ASA pelo estado da Bahia.
ASACom - No Plano Safra 2013/2014, o
governo federal destinou R$ 1,2 bilhão para o Programa Nacional de
Aquisição de Alimentos (PAA). Que avaliação a ASA faz do programa, que
este ano completa 10 anos?
Naidison Baptista – O PAA nasceu no seio do Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional]
e teve um papel significativo no apoio e na viabilização da agricultura
familiar. Avaliamos em duas perspectivas esse apoio. De um lado, a
dimensão do apoio específico à produção e a compra da produção da
agricultura familiar. São inúmeros os produtos e os processos que o PAA
apoiou no Brasil e no Semiárido. Em segundo lugar, especificamente o PAA
via Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] que teve um
papel importante na organização da agricultura familiar, pois trabalhou
com organizações e não com a compra de produtos de agricultores
individualizados, mas comprou através de propostas das suas
organizações. Então ele [o PAA] andou muito nessas duas
dimensões, que são muito importantes e significativas da agricultura
familiar. Avalio que, nesse sentido, o programa teve um papel chave e se
a perspectiva de apoio desse novo recurso continuar nessas dimensões
seria muito importante e muito significativo.
ASACom - Quais os maiores impactos do programa ao longo desses anos na região semiárida?
Naidison – O Semiárido de um
modo especial carece de uma colocação dos produtos da agricultura
familiar no mercado. São hortaliças, milho, feijão, produtos como
biscoitos, doces, geleias, ovos, frutas e produtos específicos do
Semiárido, entre outros. Todos foram abarcados pelo PAA na perspectiva
ao incremento do seu processo produtivo e se reforçou através das
organizações. Então, a dimensão organizativa da agricultura familiar do
Semiárido, teve um reforço muito importante através do PAA.
ASACom - A ASA já realizou vários
debates sobre o PAA. O que as discussões nesses encontros apontaram
sobre a integração dos seus programas com as estratégias de execução do
PAA?
Naidison – A ASA como uma rede
que atua no Semiárido procurou tomar conhecimento dos processos do PAA,
procurou mapear como as organizações filiadas à ASA estavam inseridas ou
se inserindo, na perspectiva do programa. E a partir desses dois
elementos, buscou melhorar a sua interrelação com o PAA. Acho que esses
eventos trouxeram uma marca muito significativa nesse sentido. Nós
contribuímos significativamente para que o PAA pudesse se interiorizar,
aprofundar sua ação, e exercer sua perspectiva de ação melhor no
Semiárido. Nós também incentivamos que o P1+2 [Programa Uma Terra e Duas Águas]
dinamize sua relação com o PAA na perspectiva em que é um programa de
água para produção, mais especificamente de água para a produção de
alimentos e que, consequentemente, ele possa se relacionar mais
intimamente com o PAA na medida em que o excedente de alimentos
produzidos nas propriedades, através dos implementos da segunda água,
sejam colocados no mercado. Esse debate cresce e nós avaliamos que ele
deva crescer mais ainda agora que nós estamos com essas perspectivas de
trabalho com a Petrobras e, futuramente, com o BNDES e a Fundação Banco
do Brasil na linha da água para a produção de alimentos.
ASACom - Que desafios a ASA enxerga que ainda precisam ser vencidos na execução do programa?
Naidison – O grande desafio que
existe no Semiárido ainda para os agricultores familiares é a questão
da terra. Sem a terra especificamente não se pode produzir o que deseja e
o que seria necessário para a sustentabilidade do Semiárido. O PAA
trabalha com a agricultura familiar e a ASA trabalha com agricultores
familiares mais pobres, que estão mais excluídos de quase todos os
processos e isso faz com que esses agricultores não tenham espaço de
terra suficiente para a sua produção assim como as comunidades
tradicionais que são trabalhadas pela ASA como os ribeirinhos, os
quilombolas e os indígenas. Avalio que uma dimensão chave é a dimensão
do acesso à terra e do acesso ao território. Isso a ASA tem sempre
trabalhado, tem sempre questionado e proposto nos seus documentos. Ao
lado disso, uma linha de assistência técnica agroecológica e de
convivência com o Semiárido e que seja uma assessoria técnica permanente
e processual. Hoje, nós ainda não temos uma assistência técnica
processual e isso dificulta bastante a produção de alimentos por parte
dos agricultores familiares e crédito, não apenas voltado para as
cadeias produtivas, para a globalidade da produção. Essa dimensão do
crédito ainda é muito difícil de ser alcançada porque embora seja
disponibilizado pelo Plano Safra, ao ser viabilizado pelos bancos, é
disponibilizado na perspectiva da cadeia produtiva e de sua viabilidade
econômica. Isso dificulta elementos da convivência com o Semiárido
porque, por exemplo, eu não posso trabalhar a cadeia produtiva da
caprinocultura isolada de outros processos, de outras dimensões que
existem na propriedade. Porque se olharmos apenas a caprinocultura é
quase que uma monocultura dentro do Semiárido e nós sabemos que a
monocultura, seja lá onde ela esteja, não é viabilizadora da
sustentabilidade do Semiárido. Se a gente olhar para a terra, o crédito,
a assistência técnica e outros elementos como a água, é a falta de
acesso a eles que impede uma relação mais intensa da agricultura
familiar com o PAA. Mas nós vamos gradativamente dando passos e com
certeza vamos chegar lá na conquista dessas dimensões, que são
fundamentais para a viabilização da agricultura familiar e do Semiárido.
E a ASA está envolvida e buscando essa viabilidade.
Com Asacom
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