Em mais um episódio da Série Seca, o Canto do Sabiá entrevistou Paulo Pedro de
Carvalho, coordenador geral da organização Caatinga e membro da
Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD). Paulo Pedro falou
sobre as políticas governamentais em andamento atualmente no país, o
processo de desertificação e da importância da educação sobre o tema.
Centro Sabiá - Paulo Pedro, Convivência com o Semiárido ou combate à seca?
Paulo Pedro de Carvalho -Para gente, da sociedade
civil, da ASA [Articulação no Semi-Árido Brasileiro], das organizações
que vêm trabalhando na perspectiva do desenvolvimento sustentável,
combate à seca é uma visão muito equivocada da necessidade que se tem de
uma vida digna pras pessoas no mundo todo. E nós decidimos e entendemos
que a forma correta de enfrentar essa situação é a convivência. É uma
realidade que tem suas limitações, mas também tem suas potencialidades. A
lógica da convivência na prática é muito mais expressada pela sociedade
civil do que pelos órgãos governamentais. É claro que já começa a
aparecer algumas parcerias, a exemplo do que a ASA vem fazendo nos
estados e também com o governo federal. Desde 2004, o Brasil tem um
Plano Nacional de Combate à Desertificação, e, desde 1997, é um dos
países que fazem parte da implementação da Convenção de Combate à
Desertificação da ONU [Organização das Nações Unidas], que visa superar a
degradação nas terras áridas, semiáridas e subúmidas secas. Pernambuco
tem um plano desde 2009 e em 2010 foi aprovada a Política Estadual de
Combate à Desertificação. Então em termos de instrumento, de documentos,
de políticas e de programas já temos alguns avanços.
Centro Sabiá - Neste cenário, qual é a relação que podemos fazer da desertificação e da seca no Semiárido?
Paulo Pedro -A gente vê que a temperatura está mais
elevada nesse período de seca que estamos vivendo aqui no Semiárido
brasileiro. Todos os órgãos de pesquisa apontam para um aumento de 1,2 a
1,3 graus na média da temperatura dessa região. Então a previsão é de
que haja um processo de aridização no Semiárido, que seria mais escassez
de chuva e mais temperatura. Tudo isso é influenciado pelas mudanças
climáticas do planeta.
Centro Sabiá - Como podemos pensar nas mudanças para evitar a
desertificação e oferecer melhores condições de convivência com o
Semiárido em épocas de estiagem?
Paulo Pedro -Eu não tenho esperança de uma mudança a
curto prazo. Mas uma mudança feita a médio e longo prazo passa pela
educação, passa pela comunicação. Que os jovens estejam envolvidos nessa
lógica de formação sistêmica, uma formação ampla do compromisso, do
entendimento da sociedade. É o que a gente chama de educação
contextualizada. Não só a educação formal, digamos assim, mas também a
informal, que parte pelo trabalho, por exemplo, que a sociedade civil
faz através das diversas organizações e também podemos citar a
assistência técnica de extensão rural. É preciso fazer um grande
investimento em campanhas de sensibilização, de comunicação com a
sociedade. E o outro aspecto importante é que as políticas públicas
garantam nos seus planos e nos seus orçamentos recursos para promover a
ampliação desse conjunto de experiências que vem aí já mudando a vida
das pessoas. Eu não tenho dúvida de que essa relação dos governos com a
sociedade civil organizada é muito importante, para planejar políticas,
para garantir ações dentro do orçamento, para efetivar essas ações junto
a diversas comunidades espalhadas por todo o Semiárido.
Daniel Lamir, com a colaboração de Sara Brito (Centro Sabiá)
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