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26 de abr. de 2014

Emenda que reabriu caminho para a democracia completa 30 anos

Há exatos 30 anos, durante a Ditadura Militar, o Congresso Nacional se reunia para decidir se o país voltaria a ter eleições diretas para presidente.
Mas a campanha pelas diretas começou bem antes, em uma cidade pequena.
Muita coisa, muita gente. A própria BR-101 passa pela cidade pernambucana. Três décadas atrás, também passou por lá o caminho da volta à democracia.
Em 1983, Abreu e Lima, cidade na Região Metropolitana do Recife, tinha acabado de nascer. Era um município recém emancipado.
E quatro jovens vereadores, da jovem cidade, tiveram uma ideia ousada e também arriscada, naqueles tempos de governos militares. Eles resolveram convocar um ato público pela volta das eleições diretas para presidente da República, banidas pelo golpe militar de 1964.
Dois daqueles vereadores viveram para contar.

Jornal Nacional: O senhor tem alguma foto daquela época?
Reginaldo Silva, aposentado: Foto do evento não.
Jornal Nacional: Por quê?
Reginaldo Silva: Porque a gente convidou um fotógrafo, mas ele, com medo da repressão, não veio.

Aposentados da política, se orgulham do pequeno ato. “Era uma caixa de som muito simples. Um caminhão velho. Subimos no caminhão que o caminhão fazia assim, todo velhinho, mas o importante daquela hora, o que foi? Não foi o caminhão, não foi o sentido. Foi a luta dos companheiros”, disse Severino Farias, motorista de ambulância.

A ousadia refletia mudanças iniciadas em 1982, quando foram retomadas as eleições diretas para governador. A oposição venceu em estados importantes e levantou a voz.
“Nós estamos engajados desde já. É na luta pelas diretas na sucessão do presidente Figueiredo!”, afirmou Tancredo Neves, então governador de Minas Gerais.
A crise econômica inflamava os ânimos. E nesse clima, o jovem deputado mato-grossense Dante de Oliveira propôs uma emenda à Constituição que trazia de volta as eleições diretas para presidente.
“Ulisses o apelidou de mosquito elétrico. Todo dia ele estava lá no gabinete do Ulisses, com a emendinha dele. E acho que foi isso que fez com que, aos poucos, ele passasse a ser respeitado”, contou a viúva de Dante de Oliveira, Thelma de Oliveira.
Oito meses depois do mini-comício de Abreu e Lima, a ideia ganhou as ruas. Mais de 10 mil paulistas exigiam a volta das Diretas em frente ao estádio do Pacaembu.
Deu no Fantástico: “A festa começou com um show de música. Depois do show, a política. Nos discursos um ponto em comum: a necessidade de conquistar votos dentro do PDS para aprovação da emenda que reestabelece eleição direta para presidente da República”.
A mobilização inspirou o governador de São Paulo. Franco Montoro sugeriu um abaixo-assinado em uma reunião de prefeitos.
Um deles deu ideia melhor. “O Silas levanta a mão: ‘Governador, um momento. E por que não fazermos um grande comício no dia 25 de janeiro a favor das Diretas?’ E o Montoro, que era uma figura muito curiosa, mudou o discurso dele e passou a defender o grande comício das Diretas”, conta Almino Afonso, sec. Neg. Metropolitanos-SP (1983-1986).
Dia 25 de janeiro é feriado em São Paulo, dia do aniversário da cidade. Por isso os organizadores ficaram em dúvida: “Será que daria certo um comício convocado para um dia que a cidade naturalmente está vazia? Na época, o repórter Ernesto Paglia foi conferir: “À tarde, milhares de pessoas vieram ao Centro de São Paulo para, na Praça da Sé, se reunir em um comício que pediu eleições diretas para presidente”, disse o repórter na época.
Mais de 300 mil pessoas lotaram a praça. O palanque uniu a oposição.
“É preciso conquistar o centro do poder, que é a Presidência da República”, discursou na época, o governador de São Paulo, Franco Montoro.
Os comícios cresceram pais afora. Depois de duas passeatas, um milhão de pessoas pediram a volta das Diretas no Rio.
Para mostrar tanta gente, nosso repórter subiu em um balão. “Daqui é possível se ver alguns aspectos do comício. A gente pode ver muitas bandeiras sendo agitadas e a multidão que insiste em permanecer aqui, apesar de já ser mais de 20h”, disse um repórter.

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Os militares se diziam a favor das eleições diretas, mas não em 1985. “Esse movimento de rua, não é que tinha aprovação do governo. Mas esse movimento de rua tinha os mesmos objetivos do que o governo estava buscando. Só que o governo queria controlar o processo”, disse Antônio Delfim Netto, ex-ministro do Planejamento (1979-1985).
A nove dias da votação das Diretas no Congresso, mais um comício-monstro. Quase um milhão e meio de pessoas ocuparam o Centro de São Paulo na maior manifestação contra a ditadura.
Era gente a perder de vista. Cada vez mais personalidades se juntavam ao movimento. No momento mais emocionante, todos deram as mãos e cantaram o hino nacional.

Jornal Nacional: O que o senhor acha que está faltando para a emenda Dante de Oliveira ser aprovada?
Tancredo Neves: Chegar o dia 25.

O dia 25 chegou com Brasília sitiada. O presidente Figueiredo baixou medidas de emergência, fechou o espaço aéreo e proibiu manifestações. Os estudantes desafiaram.
Dentro do Congresso, o debate se arrastou até a madrugada. A oposição conseguiu maioria, mas faltaram 22 votos para mudar a Constituição. As eleições diretas teriam de esperar mais um pouco.
“É aquela vitória que você pensa que ganhou, mas na verdade o custo dela é a derrota do regime”, comenta Marco Antonio Villa, historiador e professor da USP.
O sucessor do último general foi escolhido por eleição indireta. Tancredo Neves morreu antes de tomar posse. E o primeiro civil a comandar o pais depois do regime militar foi o vice, José Sarney.
Desde então, o eleitor brasileiro escolhe livremente a pessoa que vai ocupar a Presidência da República. Mas quem levantou a voz pelas Diretas, não abre mão nunca mais.
“De um fato político da grandeza que teve, agrupar acima de partidos, de tendências das mais diversas, por uma luta pacífica e fundamental”, analisa Almino Afonso.
“A democracia é um exercício diário. É um exercício de humildade, de reconhecimento, de atenção. E isso existe no Brasil. Pode existir mais aqui, menos ali, mas estamos em uma democracia, e é sob esse estado democrático que a gente tem que se debruçar e lembrar que essa é a nossa pátria amada Brasil”, afirma a cantora Fafá de Belém.

O Globo - Jornal Nacional

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